Seja bem vindo

O Hotel Green Garden é uma companhia de teatro de pesquisa formada em 2007 que busca uma re-ligação com o universo mítico do teatro, priorizando a relação entre tempo e espaço cênico, os rituais enquanto processos teatrais e a poética da imagem.

O processo criativo da companhia tem como referência as pesquisas desenvolvidas pelo diretor teatral Antunes Filho, com quem Ivan Feijó trabalhou no CPT (Centro de Pesquisa Teatral) por quatro anos na década de 80. A cia. tem aprofundado sua pesquisa à partir das obras de Gordon Craig, Adolfo Appia, Antonin Artaud, do cineasta Andrei Tarkovsky, do poeta Federico Garcia Lorca, de Mircea Eliade e Junito de Souza Brandão, além dos diretores Peter Brook, Tadeusz Kantor e da coreógrafa Pina Bausch.

Em seus dois anos de atividade, 0 Hotel Green Garden apresentou o espetáculo O Concílio do Amor (2007) de Oskar Panizza e a performance Os Cantos do Hotel (2009) composta de poemas de Federico Garcia Lorca.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bons bocados...

"Não somente o simbolismo está na origem de toda arte, mas é a fonte de toda vida"
Gordon Craig

"Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo"
Federico Garcia Lorca
"Tudo que há no amor, no crime, na guerra ou na loucura nos deve ser devolvido pelo teatro, se ele pretende reencontrar sua necessidade."
Antonin Artaud
“Quanto a mim, substituo o ato da morte por um seu símbolo. Símbolo este que pode se resumir num profundo beijo mas não na parede áspera e sim boca-a-boca na agonia do prazer que é a morte. Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição.”
Clarice Lispector
"De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces..."
Álvaro de Campos em Ficções do Interlúdio
"Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada."
Fernando Pessoa em Cancioneiro
"... all the world's a stage (...)"
William Shakespeare em Como Gostais

domingo, 5 de outubro de 2008

Flavia Barros - Figurinos


A estilista Flávia Barros fez sua estréia no teatro assinando o figurino do espetáculo teatral “O Concílio do Amor”. Para dar forma aos 22 figurinos usados pelos atores do Hotel Green Garden, ela optou por tecidos como viscolycra, chiffon de seda, sarja e cetim, entre outros. “A idéia era criar peças confortáveis”, define ela. Na cartela de cores tem vermelho, dourado, prateado, branco e azul. Flávia Barros foi assessorada pela modelista Jô Vasconcellos, que produziu grande parte dos looks.

A estilista é pós-graduada pela FAAP em Direção de Criação em Arte e Moda. Além de consultora da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), ela também dá consultoria de criação e estilo em moda para confecções. No final de 2006, integrou a equipe que criou a marca e a coleção FAAP Moda Brasil, sob orientação de Jum Nakao.

Westerley Dornellas - Maquiagem


Westerley Dornellas, trabalha desde 1985 com caracterização visual, premiadíssimo, nosso visagista e maquiador é conceituado no Brasil e no exterior em teatro, televisão, cinema, publicidade, ópera e outros.

Dentre os seus trabalhos no teatro vale destacar:"Tamara", "Teledeum", "Othelo", "Péricles", "Eu Sei Que Vou te Amar", "Traças da Paixão", "Rei Lear" com Paulo Autran, "Frida Khalo", "A Margem da Vida", "O jardim das Cerejeiras", "O Beijo da Mulher Aranha", "Patty Diphusa" de Almodóvar, "Rei Lear" com Raul Cortez, "Os Lusíadas", "A Hora da Estrela", "Hamlet", "No circulo das luzes", "Frankensteins" (Dir. Jô Soares), "Tarsila" (Dir. Sérgio Ferrara), "O Retrato de Dorian Gray" (Dir. Debora Dubois). e agora o Concílio do Amor (Dir.Ivan Feijó)

sábado, 4 de outubro de 2008

O Concílio do Amor

O Primeiro espetáculo



A encenação do primeiro espetáculo O Concílio do Amor teve como objetivo valorizar o caráter simbólico das personagens por meio de uma encenação poética, e que torna ainda mais relevante a linguagem escolhida pelo diretor no cenário cultural brasileiro.




O Concílio do Amor traça um paralelo entre a decadência da sociedade italiana no séc. XVI, sob o domínio da família Bórgia, com a sociedade ocidental contemporânea. O espetáculo retrata o céu, a terra e o inferno como caricaturas distorcidas pelo próprio Homem. O Concílio formado por Deus, Maria, Jesus Cristo e o Diabo articula uma vingança contra a humanidade, que se afundou na luxúria durante o papado de Alexandre VI.




O Espetáculo escancara a figura desses Deuses que estão distorcidos por estarem esquecidos. Reflexos do Homem e de sua impotência enquanto indivíduo, que vê a sua realidade se esfacelando nas engrenagens do poder. A peça escrita em 1853 por Oscar Panizza na Alemanha foi escolhida pelo Hotel Green Garden como forma de expressar essas incongruências que atravessaram os séculos e se manifestam nos nossos dias.




O Diretor Ivan Feijó, com sua experiência de mais de 20 anos de teatro e cinema, propôs uma abordagem contemporânea do tema, partindo de uma estética simbolista e expressionista que ressalta a teatralidade e a sensualidade, e se utiliza de elementos da cultura pop, do kitsch, e dos estímulos sensoriais. O resultado é um espetáculo artístico jovem e extremamente rico em símbolos e referências.




sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os Dervixes

Os dervixes rodopiantes obtiveram esse nome do poeta e místico sufi Celalledin-i Rumi (1207-1273), chamado Mevlana (nosso líder) pelos seus discípulos. Os sufis buscam comunhão mística com Deus através de varias formas. Para Mevlana, era através da SEMA (cerimônia) envolvendo cantos, louvores, música e dança giratória. O GIRO induz ao estado de transe que torna mais fácil a mística união espiritual com Deus. A ordem Mevlevi foi fundada em Konya no séc 13 e floresceu através de todo império otomano.


Os sufis Mevlevis pregaram a união do ser humano com Deus (O Todo/Tudo) não importando o credo a que pertencem os participantes.


SEMA – O Movimento Universal.

A Sema Dervixe (cerimônia) veio da inspiração de Mevlana Celaleddin-i Rumi bem como dos costumes, história, crenças e cultura do povo turco. A cerimônia representa em sete partes os diferentes significados do circulo místico para a perfeição (ascensão-mirac).

A ciência moderna definitivamente confirma que a condição fundamental de toda a existência é girar (formar um circulo-inicio e fim). Não há objeto ou ser vivo que não complete o circulo (gire). A similaridade entre os seres vivos e o átomo, que forma o todo e tudo é completa. Como conseqüência dessa semelhança, tudo gira, e o homem existe carregando em si, o giro dos átomos e do universo. No corpo humano o sangue circula, a eletricidade flui e a matéria, em toda sua complexidade, nasce da terra e volta para terra, completando o círculo.

Porém, esses são movimentos naturais, círculos não conscientes. O homem, possuidor de mente alerta e inteligente que é capaz de distinções plenas torna-se diferente, capaz de percepção e ação desperta. O dervixe ou Semazencauses torna-se completo participando na similaridade compartilhada do movimento.




A Sema representa a jornada mística de ascensão do homem através da mente e do amor ao Perfeito (Kemal). Ao se dirigir para o verdadeiro, o homem se desenvolve através do amor, esquece seu ego, encontra a verdade e alcança o Perfeito. Em seu retorno dessa jornada espiritual, o homem alcançou maturidade e avançou em direção a perfeição, amando e servindo inteiramente a criação. O consciente ama todas as criaturas sem discriminação nem conhecimento de suas crenças, classes ou raças. O dervixe com sua vestimenta representa a espiritualidade vinda da verdade, exibindo na cobertura de sua cabeça o túmulo de seu ego e em sua veste branca o simulacro do ego.

No inicio reconhece e retira a capa escura renascendo espiritualmente na verdade. A jornada tem seu inicio. A maturidade espiritual e’ alcançada através dos estágios do Sema. No inicio e em cada estagio do Sema, o dervixe de braços cruzados representa o Primeiro, e aceita a unidade Deus (Não há Deus que não Deus). Enquanto gira e abre seus braços, a mão direita se volta aos céus, o dervixe pronto para receber as bênçãos de Deus. A mão esquerda se volta em direção a terra. O giro dá-se da direita para a esquerda, o corpo tendo como eixo o coração. Essa e’ a forma de aceitação e percepção da presença espiritual onipresente de Deus que vela por todos os homens e toda sua criação com afeição e amor.




Glossário:

“Nat-i Serif” – Reconhecimento ao Profeta, que representa amor e reconhecimento a todos os profetas anteriores. Ao louvá-los louvamos a Deus, que criou a todos.

“Kun” – Segue-se o som dos tambores simbolizando a divina ordem (Kun = ser) do Criador.

“Taksim-Ney” – Improvisação musical representando o primeiro sopro que deu vida a tudo: O Sopro Divino.

“Devri Veledi – Musica Peshrev” – Três círculos caminhados onde os dervixes se cumprimentam voltando-se uns aos outros em frente ao Mevlevi. Representa a saudação das almas escondidas por formas e corpos.

“Sema – Selam” – quatro saudações. O dervixe atesta o amor ao Divino pela sua vestimenta e estado mental.

Primeira saudação – O nascimento do homem para a verdade, tornando-o consciente. Representa o conceito completo de Deus como criador e de seu próprio estado.

Segunda saudação – Expressa a humildade do homem consciente perante o esplendor da criação. Testemunho da grandeza e onipotência de Deus.

Terceira saudação – Dissolução da mente em amor. Completa submissão, aniquilação do “eu” no Amado, em sua união. Esse estado de êxtase é conhecido no budismo como NIRVANA e no ISLAM como FENAFILLAH. O Objetivo do SEMA não é êxtase ou perda de consciência permanente, mas sim a realização e consciência da submissão a Deus.

Quarta saudação – O dervixe ascende e retorna as suas tarefas, em estado de subserviência, (Ele é servo de Deus, de Seus livros de Seus profetas e de toda Sua criação) Sura Bakara 2, verso 285. No final da saudação o dervixe demonstra a aceitação e presença do Total (Não há Deus que não Deus) cruzando os braços.

Leitura/recitação cantada - Leitura/recitação do Corão, especialmente o verso do Sura Bakara 2, verso 115, “A Deus pertence o Leste e o Oeste, para todo lado que se vire Deus estará presente, Ele é onipotente e onipresente.”

Fim – A cerimônia se encerra com uma prece pela paz das almas dos profetas e dos crentes. Nesse ponto a musica se encerra e os dervixes se recolhem silenciosamente aos seus aposentos para meditação “Tefekkur”.






“Ey ask! Sen bedende cansin
Ben senin luftun sayesinde
Beden hapsinden kurtuldum”

“O amor! Sois vida no corpo
Pelo vosso favor/presença
Permitiu-me escapar da prisão do corpo”